segunda-feira, 23 de abril de 2012

A abertura do filme Cuíca de Santo Amaro, por Ian Sampaio


O diretor de arte do filme documentário de longa metragem Cuíca de Santo Amaro, Ian Sampaio encontrou um tempo livre nas suas atividades e escreveu algumas linhas sobre o processo de criação e produção das cenas animadas criadas para a abertura e fechamento do filme. Lembro que na encomenda q fizemos, com a colaboração de Claude Santos, para Ian e seu pai Enéas Guerra estava a ideia de fazer rascunhos, desenhos rascunhados, rascunhos inspirados na narrativa do encontro de Orígenes Lessa com o poeta popular Cuíca de Santo Amaro na parte alta do Elevador Lacerda em 10 de junho de 1953.

Construímos o roteiro da abertura e, com a ajuda de Enéas Guerra e com a colaboração de algumas dezenas de desenhistas, mobilizados por Ian, como Raquel Pinheiro, excelente artista, Ian Sampaio montou a animação da abertura do filme.


Ele mesmo explica:

“Durante o processo de criação da abertura eu tinha uma vontade especial de fazer o Cuíca em animação, porém queria dar a ela um teor da arte do Sinézio [o ilustrador Sinézio Alves que desenhava as capas e os cartazes que Cuíca usava nas ruas] e com o radicalismo do próprio Cuíca.”

“A minha ideia era que a animação fosse diferente para quebrar um pouco as regras (de como animar) que aprendemos. Daí cheguei a conclusão de que nada seria mais diferente do que ter vários colaboradores e assim cada frame (em animação geralmente 1 segundo tem 12 frames) seria feito por um ilustrador causando uma multiplicidade na sequência de introdução do personagem Cuíca.

“Elaborada a estratégia fiz uma lista de potenciais colaboradores dentro da minha agenda de contatos e facebook, eram pessoas que poderiam se interessar e teriam tempo para tanto. Basicamente designers, animadores, ilustradores e uns ou outro familiares com artes gráficas.

“Contatei eles e solicitei que encaminhasse o e-mail para interessados. Fiquei surpreso que alguns de fato entraram em contato comigo, como a Raquel Pinheiro e Marcita.

“No e-mail eu expliquei qual seria o processo com um vídeo; exemplificando e descrevendo que não haveria regras nem restrições. O processo utilizado foi desenhar por cima do vídeo (o Filme onde o Cuíca aparece anunciando seus folhetos [o filme A Grande Feira, de Roberto Pires (1962)], um processo conhecido em animação como rotoscopia, que realcei no e-mail como roTOSCOpia, por causa do caráter tosco, bruto e puro que queria transportar dos desenhos do Sinézio e outros nos livros do Cuíca de Santo Amaro.



Fiz uma função matemática para exibir randomicamente um nome a cada frame, puxados da lista de nomes dos ilustradores. Os nomes se intercalam aleatoriamente, já que a ideia principal era de que a animação demonstrasse uma variedade de estilos. Devia cada ilustrador localizar os frames que cabiam a ele, sendo o responsável por decidir com quantos poderia colaborar. Após cada entrega eu contava frames restantes e redistribuía entre colaboradores, me incluíndo na lista inclusive.

Montei uma pasta no Dropbox e convidei todos os que confirmaram participação. Fiz pastas para cada um deles, onde eles salvariam suas artes. Em média, se não me engano, cada pessoa ficou com 7-8 frames pra desenhar, mas alguns famintos, como o Rafael Aflalo fizeram 28 ou mais.


Pergunta: O uso de animações em documentários é algo pouco comum. O que significou para vc esta experiência?

“De início eu estava um pouco incerto de como fazer essa introdução em animação. Não fugir ao foco do filme documentário. Mas a ideia começou a ficar mais clara à medida que eu desenvolvi o conceito e execução.

Nesse ponto foi bem natural experimentar linguagens de vários tipos, como o uso de fotos, de 3d, etc. Quis fugir do lugar comum e tinha uma tarefa de contar uma história, a sequência de introdução, sem ser literal.

Em geral a experiência foi bem agradável, o processo inteiro tomou um pouco mais de 1 ano, com vários intervalos as vezes de 3 meses. O que significou muito em termos de processo! Tive oportunidade de desenvolver vários detalhes com muita atenção. Minha experiência foi tão pessoal que não sabia como terminar, por que sempre queria mexer um pouco mais, ao mesmo tempo que se formou uma relação de amor e ódio. Ao final fiquei muito satisfeito… a abertura construiu um valor grande na minha opinião. É um trabalho muito elaborado, principalmente pela colaboração dos artistas.

Meu pai na verdade teve maior participação como colaborador, a ajuda dele foi especial pois produziu cuidadosamente alguns frames e também por ser o mais renomado entre os nomes, mas foi igualmente colaboração. 

Estes foram os artistas que fizeram as ilustrações:

ANdrÉ LEAL
athos sampaio
bruno souza
carlo medici
carol gonçalo
chiquinho beraldo
daniel bruson
daniel makino
danilo enoki
enéas guerra
estudio ilustract
fabio biofa
felipe jornada
flavio de paula
ian sampaio
kin guerra
leandro franci
marcita leite
nemo sampaio
rafael aflalo
rafael araújo
raquel pinheiro
roberto sakaki
thiago pinho
thomate
vitor cervi